Temas Redação Enem 2015: Intolerância Religiosa

  • 16 de maio de 2015 – Barretos/SP: o tio de uma adolescente evangélica, que se diz discriminada pelos colegas de escola pela religião, foi espancado por 30 pessoas ao tentar salvar e proteger a sobrinha de agressões motivadas por intolerância religiosa. O homem, de 31 anos, teve o rosto desfigurado e traumatismo craniano devido as pauladas que levou e passou por cirurgia. A jovem relata ter sido ofendida pelas roupas que usa e pelo cabelo comprido.
  • 14 de junho de 2015 – Rio de Janeiro/RJ: uma menina de apenas 11 anos é vítima de intolerância religiosa ao levar uma pedrada na cabeça quando saia de um culto de candomblé (religião de matriz africana) acompanhada pela avó e por um grupo de amigos. Todos, que vestiam roupas típicas da religião, estavam em uma calçada quando dois homens se aproximaram, os xingaram de “diabo” e levantaram a Bíblia, afirmando que Jesus Cristo estava voltando e que os demais deveriam ir ao inferno. A menina levou pontos na cabeça e passa bem. O caso foi registrado como lesão corporal e classificado pelo artigo 20 da lei 7.716 (prática, indução ou incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional). Dias depois, ao sair do Instituto Médico Legal (IML) onde fez um exame de corpo de delito, a menina foi novamente ofendida verbalmente por um homem que passava pelo local e que gritou “A imprensa só da ibope para macumbeiro e gay!”.
  • 18 de junho de 2015 – Uberaba/MG: o túmulo do médium kardecista Chico Xavier, autor de mais de 400 livros psicografados, dos quais não ficou com nem um centavo, e realizador de inúmeras obras de caridade, foi alvo de vandalismo. A construção possui um busto de Chico protegido por uma redoma de vidro e esta estrutura estava danificada, com pancadas e riscos. O filho adotivo do médium, Eurípedes Higino, acredita em vandalismo motivado por intolerância religiosa.
  • 18 de junho de 2015 – Rio de Janeiro/RJ: o templo Casa do Mago, situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, foi apedrejado por três homens com Bíblias nas mãos. As pedras atingiram uma estrela, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e algumas imagens de Buda.
  • 19 de junho de 2015 – Rio de Janeiro/RJ: o médium Gilberto Arruda (73 anos), principal integrante do centro espírita Lar de Frei Luiz, foi encontrado morto amarrado a uma cama com sinais de espancamento. Gilberto era praticante do espiritismo desde a infância e realizava cirurgias espirituais gratuitamente, além de manter uma creche juntamente com a esposa. A polícia não descarta a hipótese de crime motivado por intolerância religiosa.

diversidade religiosa

Estes cinco casos são os exemplos mais recentes e mais noticiados de atos de intolerância religiosa ocorridos no Brasil. Ed René Kivitz, teólogo e mestre em Ciência da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e integrante do movimento Missão Integral (congregação de diferentes lideranças evangélicas), em entrevista para o portal de notícias UOL, vê este momento com grande preocupação. Para ele, alguns políticos da bancada evangélica e alguns pastores usam um “tom bélico” e assim criam “um clima propício para gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida” para dar vazão a impulsos de “violência e rejeição ao próximo”.

A verdade é que há muito tempo, infelizmente, vivemos uma tensão religiosa no Brasil na qual as principais vítimas são fiéis de religiões menos divulgadas pela mídia e, deste modo, alvos de preconceito por serem minorias pouco compreendidas, como todas as minorias. Porém, não são apenas as crenças de matriz africana (candomblé, umbanda, quimbanda dentre outras) que são alvos de intolerância religiosa; o caso da menina evangélica discriminada na escola comprova isso, mas os ateus e agnósticos também são vítimas devido a sua descrença, como se não fosse permitido não crer em uma entidade divina.

A jornalista Eliane Brum escreveu, em 2011, um artigo opinativo no qual aborda o preconceito contra os ateus para a revista Época. No texto, a autora conta uma conversa que teve com um taxista evangélico que tenta convencê-la a se converter ao Cristianismo argumentando que só os cristãos serão salvos no dia do juízo final. A jornalista rebate, dizendo que ela respeita ele ser evangélico, mas que ele não respeita o fato de ela ser ateia.

Os seguidores do Islamismo também são vistos com receio por muitas pessoas que estranham as vestimentas e que pensam que todo muçulmano é terrorista. Na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, uma estudante da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cansada de ser alvo de olhares maldosos, sugeriu que algumas mulheres usassem a Hijab por 24 horas para sentirem na pele o preconceito e todas, infelizmente, o sentiram realmente. Larissa Sato (18) se diz uma “mulher velada”, não muçulmana, que usa a Hijab por opção. A reportagem que conta a experiência de suas amigas e de uma jornalista que vestiu a Hijab por um dia pode ser lida na página do jornal Cruzeiro do Sul.

Por se tratar de um tema atual situado no contexto brasileiro, tão miscigenado tanto na etnia quanto nas religiões, os candidatos ao Enem devem estudar e discutir a intolerância religiosa não apenas como possível tema da proposta de redação, mas como algo que deve ser combatido a fim de ser exterminado.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

 **Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas! Também é uma das professoras do Programa de Correção de Redação do infoEnem.

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5 comments
  1. Olá, professora Camila! Você poderia corrigir minha redação?

    Intolerância Religiosa: regra ou exceção no Brasil?

    Historicamente, a religião já esteve relacionada com inúmeras passagens de guerras, atrocidades e fatos que foram repletos de intolerância. A verdade absoluta imposta por cada credo já desperta um conflito social. Em uma análise imparcial, parece sensato chegar a mesma conclusão que John Lennon em sua música “Imagine”: a de que um mundo em paz implicaria um no qual não houvesse religiões. Porém, seria excluída a ampla representação histórica e cultural das religiões e de sua liberdade que resguarda a autonomia da crença.

    A liberdade religiosa é um direito civil não apenas pela necessidade de seu componente espiritual, mas também porque a religião inclui uma prática social. No Brasil, a pluralidade de crenças poderia causar intolerância. Contudo, felizmente, esta é exceção no país, com número de ocorrências baixo e pouca expressão; isso porque a cultura brasileira assimila as diferenças, não exclui — por exemplo, a umbanda que representa o sincretismo religioso brasileiro, por se tratar de uma religião fundada no país, que reúne elementos do catolicismo, do espiritismo e da cultura africana.

    Para não apenas imaginar o Brasil como um país sem intolerância religiosa, é necessário punir quem aja contra a liberdade de expressão do outro. A educação brasileira precisa ensinar respeito e conhecimento da diversidade de crença, afinal, apenas se pré-julga o que não se conhece. Para isso é válido ensinar em casa e nas escolas a respeito de cada religião, formando alunos conscientes de modo a selecionar as informações que recebem, buscando serem mais coerentes com a religião ou mesma a falta dela de outras pessoas.

    Sugestão: Se possível, mesmo se não puder corrigir meu texto. Gostaria que escrevesse sobre a obrigatoriedade ou não do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras. Desde já agradeço. Janaína.

    1. > Olá Janaína ,só uma dica básica okay?! a redação deve ser feita em 30 linhas máximas e miníma 25 . é meio deficíl indentificar seu desenvolvimento e a sua solução para o problema , porém vc tem um bom argumento !

  2. Falei isso para minha professora,mas ela disse que é improvável de cair devido que esse tema é muito polêmico.

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