Sobre a economia linguística

Norma culta e seu antigo debate

Num artigo anterior, fiz algumas reflexões a respeito de variação linguística e, entre elas, mencionei as alterações que os falantes vão incorporando ao idioma.

O empréstimo linguístico de elementos estrangeiros é um dos processos bastante frequentes de enriquecimento do vocabulário praticados por usuários do nosso idioma. Tanto é verdade, que forneceu material para a prova da Unicamp 2018, baseada nos estudos do Prof. Sírio Possenti, dessa mesma instituição. Vejamos a afirmação do estudioso, a qual foi inserida na questão:

Tomamos alguns verbos do inglês e os adaptamos a nosso sistema verbal exclusivamente segundo regras do português. Se adotarmos start, logo teremos estartar (e todas as suas flexões), pois nossa língua não tem sílabas iniciais como st-, que imediatamente se tornam est-. A forma nunca será startar, nem ostartar ou ustartar, nem estarter ou estartir, nem printer ou printir, nem atacherou ou atachir etc., etc., etc. (Adaptado de Sírio Possenti, “A questão dos estrangeirismos”, em Carlos Alberto Faraco, Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001, p. 173-174)

Os estrangeirismos apresentados no exemplo geram palavras por meio de sufixação (derivação sufixal), mas esse não é o único processo fértil. Temos também outros mecanismos bastante empregados pelos falantes, que se baseiam no princípio da ‘economia linguística’: é a composição por aglutinação e a abreviação (ou redução).

A composição tem como ponto de partida palavras já existentes no idioma, que são combinadas para nomear outro ser, diferente de cada um dos termos formantes, mas com algo em comum com eles. Por exemplo, da altura característica das pernas de alguns pássaros criou-se o nome para identificar genericamente todos os que se assemelham: perna + alta = pernalta. Aglutinamos e economizamos letras.

Também verificamos isso no cotidiano, numa aglutinação que aparece no refrão da Sinfonia Paulistana, como representação também da ‘pressa’ dessa cidade, pressa no falar e pressa para trabalhar:

vambora, vambora,
olha a hora,
vambora, vambora
(https://www.youtube.com/watch?v=-sJ4O1DbpEc ) .

A mesma pressa ocasiona a contração dos dois termos que nomeiam a cidade, gerando o termo carinhoso, Sampa, com o qual Caetano Veloso faz sua homenagem musical. (https://www.youtube.com/watch?v=qeDqXLkXvr4 )

Vou abreviar a prosa e no artigo seguinte tratarei do processo de abreviação.

Até a próxima semana!

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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