REGÊNCIA – Qual a preposição adequada?

Há alguns dias, vi, nas redes sociais, a divulgação de campanhas para arrecadação de fundos que seriam direcionados para o tratamento de saúde de duas pessoas: uma com um caso muito agressivo de câncer e outra que apresentava um caso raro de surdez de nascença. São campanhas muito válidas e creio que movimentaram muitas pessoas, que se sensibilizaram com os casos. Mas o que me chamou a atenção na divulgação foi o texto. Em ambos, havia a justificativa: as campanhas estavam sendo feitas “em prol ao” tratamento de saúde… e eis um grave deslize de regência.

Regência (nominal ou verbal) é a parte da Gramática que estuda a relação entre palavras intermediada por preposições. Segundo as Gramáticas, regência é a relação entre um termo regente (p.ex.: o verbo, um substantivo abstrato, um adjetivo ou um advérbio) e outro termo que o complementa (p.ex.: o objeto ou complemento nominal), estabelecida por meio de uma preposição, pois, para que alguns termos façam sentido nos enunciados em que são empregados, eles precisam de complementos (complemento nominal, objeto direto, objeto indireto, ou ainda um adjunto adverbial, que estabelece em que circunstância ocorre a ação do verbo). E as preposições essenciais são:

a, ante, após, até, com contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem sob, sobre, trás

Acontece, porém, que as preposições têm sentidos específicos e não podem ser substituídas aleatoriamente. Veja abaixo, algumas das relações de sentido que podem ser estabelecidas por elas:

  • Autoria – Esta poesia é de Drummond.
  • Assunto – Não gosto de falar sobre futebol.
  • Causa – Estou tremendo de medo.
  • Companhia – Ontem saí com meus amigos.
  • Conteúdo – Tomei um copo de cerveja. (temos aqui uma metonímia do tipo conteúdo/continente – não se lembra das figuras? Clique aqui para rever )
  • Especialidade – João formou-se em Engenharia.
  • Finalidade – Eu vim para consertar o equipamento.
  • Instrumento – A criança feriu- se com a faca.
  • Lugar – Fiquei em casa durante as férias.
  • Matéria – Perdi meu anel de prata.
  • Meio – Sempre quis aprender a andar a cavalo.
  • Modo ou conformidade – Vamos escolher por sorteio.
  • Oposição – O Corinthians jogou contra o Palmeiras.
  • Origem – Eu sou descendente de portugueses.
  • Posição abaixo – Descansamos sob a copa da árvore.
  • Posição acima – Colocamos a toalha sobre a mesa.
  • Posse – Este é o carro de João.
  • Preço – Compramos o dicionário a (por) R$ 30,00.
  • Tempo – Não viajei durante as férias.

Dessa forma, se eu disser que Davi lutou com Golias, tenho uma frase gramaticalmente correta, mas um erro bíblico, já que Davi não lutou ao lado do filisteu, lutou contra ele. A ideia aqui é de oposição e não de companhia.

E há ainda os casos em que não ocorre mera confusão de sentidos, mas uma impropriedade linguística. É o que ocorreu na divulgação das campanhas que mencionei no início do texto. A expressão “em prol” (que significa “em favor”) deve ser empregada seguida da preposição de: as campanhas devem ser feitas em prol do tratamento de saúde, em prol da reforma da escola, em prol da associação de funcionários etc.

Até a próxima semana!


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), onde também concluiu seu mestrado. Mais de 20 anos de experiência e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoenem, a professora também é colunista de gramática do nosso portal e umas das corretoras do nosso curso de redação (clique aqui para saber mais) . Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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