Pleonasmo – Figura ou Vício de Linguagem?

No texto da semana passada (veja o artigo), discutimos um pouco a respeito dos vícios de linguagem que, como dissemos, ao contrário das figuras de linguagem, empobrecem o texto, falado ou escrito, e devem ser evitados, principalmente nas situações em que se deve empregar a norma culta. Os vícios de linguagem costumam ocorrer por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras por parte do emissor.

Hoje, vamos abordar um caso que tanto pode configurar vício como pode ser uma figura de linguagem. É o caso do pleonasmo!

Mas, se vício é um defeito e figura é uma qualidade no texto, como ele pode ser as duas coisas? Bem… não são exatamente as duas coisas ao mesmo tempo… Na verdade, existem dois tipos de pleonasmo, mas antes vamos definir com mais precisão o que significa o termo.

Segundo o dicionário Houaiss eletrônico, a palavra pleonasmo veio do grego, passando pelo latim para chegar ao português, e significava superabundância, excesso, amplificação, exageração. Assim, pleonasmo, na origem, tem a ver com exagero.

No âmbito da Gramática, o pleonasmo tomou dois rumos e podemos agora encontrar, como defeito no texto, o Pleonasmo Vicioso ou Redundância, que é a repetição desnecessária de uma informação na frase. Veja os seguintes exemplos:

  • Entrei para dentro de casa quando começou a anoitecer.
  • Hoje fizeram-me uma surpresa inesperada.
  • Encontraremos outra alternativa para esse problema.
  • O general do Exército recebeu uma homenagem na cerimônia.

Observe que os dois primeiros exemplos têm uma repetição ‘escancarada’ da ideia, mas os dois seguintes podem passar despercebidos, pois dependem de um maior conhecimento de mundo. A ideia de ‘outra’ está contida no elemento ‘alter’ da palavra alternativa, e essa informação deve vir do estudo de estrutura e formação de palavras. O mesmo ocorre com ‘general do Exército’, que parte da ideia de hierarquia militar e é preciso saber que as patentes equivalentes na Marinha e na Aeronáutica são, respectivamente, almirante e brigadeiro.

Há um vídeo da dupla Leandro Hassum e Marcius Melhem que apresenta, de modo divertido, esse emprego vicioso (veja aqui), embora eles empreguem erroneamente o termo tautologia.

Como recurso para reforçar a mensagem, o pleonasmo constitui uma figura de linguagem. Nesse caso é a repetição de palavras desnecessárias à compreensão, mas importantes para a expressividade:

As montanhas, vejo-as iluminadas, ardendo no grande sol amarelo. (Vinícius de Moraes) (A ideia de ‘montanhas’ se repete no pronome ‘as’)

“Eu canto um canto matinal”. (Guilherme de Almeida)

Portanto, se a repetição for desnecessária é um defeito e precisa ser evitado, mas se a ideia é reforçar uma imagem ou uma mensagem é qualidade, por isso, fique atento!

Até a próxima!

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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