A Moda e a Linguagem – Como Não Empobrecer seu Texto – continuação

No artigo da semana passada, teci comentários sobre algumas expressões que em nada colaboram para obter um bom texto. Caso não tenha lido, clique aqui.

Vamos nos deter mais um pouco nesse assunto hoje.

Citei os meios de comunicação como uma das fontes de expressões problemáticas, pois se elas são lidas ou ouvidas provindas de jornalistas, apresentadores ou entrevistados na TV, os leitores/espectadores ficam com a certeza de que são adequadas e seu uso vai sendo disseminado.
Selecionamos mais algumas expressões que empobrecem o texto, porque são impróprias, ou porque o significado não é aquele que o falante tinha em mente ou ainda por terem sido empregadas em construções inadequadas:

  • Por conta = por causa

O modismo dessa expressão atinge o emprego de preposições simples e curtas – como com, contra, por e de – resultando no que um cronista chamou de “enrolação palavrosa” ou no popular neologismo embromation. Veja alguns casos em que a linguagem deveria se pautar pelo simples:

  • Corintianos fazem piada por conta da derrota do Palmeiras (com);
  • Fulana está deprimida por conta de separação (com);
  • Moradores protestam por conta da situação das ruas do bairro (contra);
  • O escritor foi processado por conta de plágio” (por);
  • Ele morreu por conta de câncer (de).

Nos casos acima, as construções ficariam mais claras, concisas e objetivas, se tivessem sido empregadas as preposições dos parênteses.

  • Repercutir

O dicionário Michaellis traz, para esse verbo1, o sentido de ressoar, refletir-se, causar impressão generalizada ou afetar algo. Assim, devemos dizer que O acontecimento repercutiu no cenário mundial ou O som dos tambores repercutiu no Pelourinho. Não se pode empregar como alguns jornalistas tem feito: A imprensa mundial repercutiu a notícia. O ideal é dizer que a notícia repercutiu ou que a imprensa mundial divulgou a notícia.

  • Sazonalmente = ocasionalmente

Certa vez um ministro deu a seguinte declaração: “Um avião não é feito para cair, mas ele sazonalmente cai. O que não se pode dizer é que ele todo ano tem que cair. Assim é o sistema elétrico brasileiro.” (Edison Lobão – Ministro das Minas e Energia 2011-2014)

O adjetivo sazonal é derivado do latim sationis, que significa “estação do ano” e, por extensão, “tempo próprio para a colheita”. E estendendo ainda mais um pouco seu significado, passou a caracterizar tudo aquilo que ocorre em ciclos, regularmente, como as estações que estão na origem do termo, como as safras e fluxos turísticos em cidades litorâneas, por exemplo. Já a queda de aviões não é previsível, nem cíclica! E não tem nenhuma característica que permita que seja comparada a apagões de energia elétrica (que não deveriam ocorrer e muito menos ciclicamente, embora tenha relação com as características climáticas e essas, sim, estão ligadas às estações do ano.

O assunto não se encerra por aqui, pois há muita gente ‘jogando contra’ a boa qualidade dos textos, mas vamos vendo os casos em doses homeopáticas, para dar tempo de serem devidamente ‘digeridos’ pelo leitor e incorporados nos seus hábitos linguísticos.

Até a próxima semana!


1 http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/repercutir/


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

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