Dica de Língua Portuguesa – uso da preposição “a”

“Procuradoria Geral da República não pretende liberar conteúdo das declarações feitas por Paulo Roberto Costa à Polícia Federal e ao MPF.”

Num veículo de comunicação impresso de Londrina, PR, havia essa frase na “linha fina” da manchete. A princípio, senti um ruído na comunicação, ou seja, senti dificuldade de entender o significado dela. O motivo disso está no uso da preposição “a” diante de “Polícia Federal”, representada pelo acento indicador de crase – à –, e de “MPF”, representada pela combinação dela com o artigo “o”. Vejamos o porquê:

Preposição é um elemento de ligação. Jamais uma preposição será usada sozinha; sempre será exigida por um termo da frase – denominado de regente – e se ligará a outro termo – denominado de regido – que lhe dará o sentido pretendido. Por exemplo, se se quiser dar o sentido de causa, pode-se unir o regente ao regido por meio da preposição “por”: “Preso por corrupção”; ou “de”: “Morreu de câncer”.

A preposição “a” é uma das mais ricas de significado da Língua Portuguesa. Ela se liga a centenas e centenas de termos e representa inúmeros significados. Na frase apresentada, há dois termos regentes da preposição “a”: “liberar” e “fazer”: Quem libera, libera algo a alguém; Quem faz, faz algo a alguém. E é aí que reside o problema de interpretação da frase. Leiamo-la novamente:

Procuradoria Geral da República não pretende liberar conteúdo das declarações feitas por Paulo Roberto Costa à Polícia Federal e ao MPF.

“Quem libera, libera algo”. A Procuradoria Geral da República não pretende liberar algo – o conteúdo das declarações feitas por Paulo Roberto Costa. “Quem faz, faz algo”: Paulo Roberto Costa fez declarações”. Ocorre, porém, que ambos os verbos pedem um segundo complemento, encabeçado pela preposição “a”, e que, na frase apresentada, podem ser os mesmos termos: Polícia Federal e MPF. Observe:

– Procuradoria Geral da República não pretende liberar à Polícia Federal e ao MPF conteúdo das declarações feitas por Paulo Roberto Costa.

– Procuradoria Geral da República não pretende liberar conteúdo das declarações feitas à Polícia Federal e ao MPF por Paulo Roberto Costa.

Qual dos significados foi pretendido pelo autor? Somente a frase não traz clareza, mas, lendo a reportagem toda, passa-se a saber que as declarações foram feitas à PF e ao MPF. Os termos regidos pela preposição “a” deveriam ser, então, colocados ao lado do termo regente, para evitar a ambiguidade:

– Procuradoria Geral da República não pretende liberar conteúdo das declarações feitas à Polícia Federal e ao MPF por Paulo Roberto Costa.

– Procuradoria Geral da República não pretende liberar conteúdo das declarações de Paulo Roberto Costa feitas à Polícia Federal e ao MPF.

Perceba como o uso equivocado de uma única preposição pode tornar a frase ambígua e confundir o leitor. Preste muita atenção durante o Enem, pois tal conteúdo pode aparecer em questões de Linguagens e Códigos e lhe atrapalhar na escrita da Redação.

Bons estudos!


Sobre o autor: Dilson Catarino é professor de português e também proprietário do site Gramática Online, onde publica diariamente artigos como este, solucionando dúvidas sobre nossa Língua.

*Agradecemos ao prof. Dilson pelo esclarecedor artigo.

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1 comment
  1. (Paulo Roberto Costa). Acredito eu que deveriamos ter meios mais simploro em explicação, pois tamanha carta, e redação de um termo da lingua portuguesa acaba por as vezes deixar-nos confudidos por tanto detalhes de explicação. Creio que deva-se colocar as regras da preposição e abaixo fazer-se exercicios, pois somente os exercicios farão se esclarecer na exata manifestação da praticidade.

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