As Instruções na Proposta de Redação do Enem

Bem vindos de volta após a semana de loucura e/ou descanso no Carnaval! Quem foi para bloquinhos? Quem ficou no Netflix? Quem aproveitou pra dormir e ficou de sábado a terça deitado? Com as energias renovadas agora acho que dá pra retomarmos nossos estudos em redação, certo?

Nos artigos de fevereiro tratamos de pontos bastante gerais em relação à produção de textos: leitura e escrita, organização de tempo, linguagem a ser utilizada e como se manter atualizado. Com essas ferramentas em mãos, já podemos começar a mergulhar um pouco mais nos detalhes da redação do Enem. Trata-se de uma produção bastante específica, com suas exigências próprias, mas que também tem bastante material disponível a ser analisado (a Cartilha do Participante, por exemplo, que é reelaborada todos os anos, o edital e a própria proposta no caderno de questões) e que, bem compreendido, pode evitar perda de nota (ou redação zerada #Deusmelivre) por motivos bobos.

O assunto de hoje é aquele pequeno parágrafo para o qual você muito possivelmente não dá tanta atenção ao ler a proposta (provavelmente porque já o viu por aí mil vezes, e não te culpo nem um pouco, mas vem comigo e façamos mais um esforcinho), mas que dá instruções valiosas e vale bastante a pena analisar frase a frase, então vamos lá!

Relembrando

O trecho que dá instruções sobre como produzir seu texto (excluindo as menções ao que pode zerar sua nota, como as sete linhas e tudo mais, que ficam pra outro artigo) é este aqui:

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo – argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema ‘Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet’, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Vamos separar cada um dos trechos e, rapidamente (já que uma análise mais profunda deles implica em conhecermos os critérios corrigidos, e pra isso precisaremos de, no mínimo, um artigo pra cada um pra conversamos melhor sobre), observar como eles podem nos ajudar a saber o que deixará a redação no Enem num bom nível.

A partir da leitura dos textos motivadores

Esse primeiro trecho parece óbvio, mas não é tão rara a famosa fuga ao tema. Ela parte justamente daqui! É preciso compreender que o título não é a única parte da proposta que será considerada para validar se você entendeu ou não o que foi pedido e está sendo tratado. Os textos motivadores são de extrema importância e podem muitas vezes ditar o que será considerado válido dentro daquela temática ou não, por detalharem de certa forma o que é esperado que o aluno desenvolva. Por isso, leia-os sempre com extrema atenção e não fuja muito dos tópicos em relação àquele assunto que foram tratados dentro deles (e isso não quer dizer de jeito nenhum que você é obrigado a concordar com eles. Fique à vontade para trazer suas argumentações e contestá-los, desde que sejam factuais e bem colocadas.).

Norma culta e seu antigo debate

Com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação

É aqui que está o trecho mencionando os conhecimentos externos que você deve trazer para a redação. Não basta argumentar bem mas fazer isso baseado em “achismos” e senso comum. É necessário inserir conhecimentos desenvolvidos ao longo de sua formação escolar (contextualização histórica, estatísticas, geografia etc.), bem como os adquiridos ao longo da vida através da recreação (sim, exemplos de séries, livros, filmes, figuras importantes naquele campo e obras de arte também valem! EBA!) e da informação diária (TV, rádio, jornais, revistas, internet) vinda de fontes IDÔNEAS (peloamordeDeus, não se esqueçam disso! Nem pensem em usar coisas que leram no Whats, tá?).

Redija um texto dissertativo – argumentativo

Esse tipo de texto possui características específicas e que merecem ser tratadas com cuidado em um próximo artigo. Mas Já dá pra ter uma ideia de que cartas, narrações ou poemas vão conseguir um lindo zero. Não quero ninguém que tenha lido essa coluna zerando redação com esse detalhe, hein?

Em modalidade escrita formal da língua portuguesa

No nosso penúltimo artigo tratamos das diferenças entre a linguagem formal e a informal. Portanto, já sabemos que vamos utilizar a modalidade formal e que muito provavelmente linguagem informal nos desconta alguns pontos. A menção à língua portuguesa também pode parecer incrivelmente óbvia, mas não custa nada lembrar que há grandes probabilidades de uma redação escrita em língua estrangeira ser zerada. Não se preocupe, no entanto, com estrangeirismos ou palavras em inglês incorporadas ao nosso vocabulário: elas podem ser usadas normal e tranquilamente!

Apresentando proposta de intervenção que respeite os Direitos Humanos

Essa é a questão mais polêmica do Enem até hoje! Até o Supremo Tribunal Federal ficou no meio da história. Mas sem pânico! Para entender o que são os direitos humanos, leia este artigo na íntegra. É um documento bastante simples e não tão extenso assim para ser lido. Alguns exemplos de atitudes que ferem esses direitos são a tortura, escravidão e censura. Depois de entender bem o que são os Direitos Humanos, é só sugerir soluções para a questão colocada em pauta que não firam nenhum deles. Alguns alunos em anos anteriores, quando o tema tratou da inclusão dos surdos, sugeriram extermínio e isolamento social para os indivíduos portadores de deficiência. Levaram um belíssimo e merecido zero na competência que trata da proposta de intervenção. Então sem tentar fazer gracinhas ou humor negro logo na conclusão de um texto que estava sendo lindamente conduzido, hein, galera?

Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista

Aqui entra mais um ponto a ser tratado com mais detalhes em outro(s) artigo(s), já que tratam de uma profundidade maior do texto: a seleção e organização de argumentos e as relações construídas entre eles através de seu texto de forma que tudo faça sentido. Na minha opinião pessoal, esse é o item que leva mais tempo para ser desenvolvido quando nos propomos a aprimorar habilidades na redação. Mas usando de um pouquinho de observação e atenção, podemos ir lapidando este quesito logo de cara. Por exemplo, ao reler um texto que produziu e sentir que ele parece uma espécie de “lista de argumentos” na qual só foi inserindo o que foi se lembrando, há chances de sua nota aqui não ser tão boa. Por isso é importante ficar de olho em nossos próximos artigos ao longo do ano e, acima de tudo, praticar! É necessário construir uma tese em seu texto e trazer argumentos para sustentá-la, relacionando cada um deles entre si e com a tese principal. Ao tentar fazer isso apenas no dia da prova, com certeza vai parecer um pouco mais complicado. Mas como você está seguindo nossas colunas e praticando a escrita, a dificuldade nesse quesito cai pela metade!

O que acharam do artigo de hoje? Já tinham reparado em todos esses detalhes em relação a esse parágrafo ou sempre pulavam por ser repetitivo nas aulas de redação da escola? Contem pra gente nos comentários e até semana que vem!

 


*Vanessa Christine Ramos Reck é graduada em Letras na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fluente em mais três idiomas: Inglês, Espanhol e Francês. Além disso, é corretora do Curso Online do infoEnem. Seus artigos serão publicados todas as quintas, não perca.

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2 comments
  1. Os textos de Vanessa Reck são muito interessantes; uma linguagem informal, despojada, bem de acordo ao público a que se destina. Porém, vejo necessidade de que a autora se policie um pouco, evitando , por exemplo, abreviações , mistura dos pronomes de tratamento , uma pequena quebra de paralelismo já que queremos incentivar os jovens a escrever bem e a se acostumarem com um texto bem elaborado. Recomendo as leituras do Infoenem toda semana para meus alunos, mas sinto-me incomodada com a linguagem usada, tendo de analisar partes do texto. Pense nisso, cara professora. Um abraço.

    1. > Muito obrigada pela sugestão, professora! Pode ter certeza de que já tinha notado algumas das coisas que mencionou e que precisava me policiar com um pouco mais de atenção! Por favor continue enviando suas sugestões sempre! Nos sentimos honrados pelas recomendações!

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