AMBIGUIDADE: O QUE VOCÊ QUIS DIZER, ISTO OU AQUILO?

Horário de versão e a concordância

Esta semana recebi de um grande amigo um “meme” parecido com este:

meme

Meu amigo deu também a sugestão de escrever o artigo desta semana a respeito do problema linguístico que foi a base para o humor da imagem, então, acatando a sugestão, vamos a isso!

A frase do cãozinho dá margem a duas interpretações: ele anda de bicicleta atrás das pessoas (o que seria muito interessante, mas já descartado pelo animalzinho, o qual alega nem ter bicicleta!) ou o cão persegue os ciclistas. Ao problema de clareza na mensagem, apresentado pela frase, dá-se o nome de ambiguidade.

Esse jogo linguístico pode ser usado na publicidade, nos textos humorísticos ou nos textos poéticos. No caso do ‘meme’, o uso é humorístico. No sentido poético, no plano da sonoridade, aliada à intertextualidade, Zeca Baleiro criou uma construção bastante divertida na música “O parque da Juraci”:

Dedico esse tecno-xaxado a Steven Spielberg e Genival Lacerda
Pau na máquina

Juraci me convidou preu ir
num parque mais ela lá em Birigui
e eu vesti o meu terninho engomado
alisado alinhado pra brincar com Juraci

(…)

mas lá chegando eu tive o maior susto
e tentei a todo custo então crer no que vi
no lugar do parque um self-service por quilo
fiquei p… com aquilo e perguntei pra Juraci

Juraci que parque Juraci que parque
Juraci que parque é esse que eu nunca vi?
Juraci que parque Juraci que parque Juraci
quebrei o pau com Juraci (…)

(https://www.vagalume.com.br/zeca-baleiro/o-parque-de-juraci.html )

O fato de ter mencionado o cineasta é o que nos autoriza a entender da segunda maneira, como uma referência ao famoso filme, e, havendo dois sentidos, está presente a ambiguidade.

Acontece, porém, que muitos alunos, distraidamente, também criam construções ambíguas nos seus textos e nessas situações, como o texto das redações deve ter a clareza na mensagem como uma das características, a ambiguidade deixa de ser qualidade: vira vício de linguagem e, como defeito, pode ser provocada pelos seguintes fatores:

  • Posição inadequada do adjunto adverbial:
    Cães que comem pão frequentemente têm alergias.
    A ingestão de pão é frequente ou as alergias é que são? O adverbio este bem ‘no meio’ da frase, podendo modificar a informação anterior ou a seguinte, causando o problema. Solução?
    Cães que frequentemente comem pão têm alergias.
    Cães que comem pão têm alergias frequentemente.
  • Uso indevido de pronomes possessivos.
    A mãe de Fernando entrou com seu carro na garagem.
    De quem era o carro? O pronome ‘seu’ não fará parte da solução, precisaremos apelar para a contração da preposição ‘de’ com o pronome ‘ele/ela’:
    A mãe de Pedro entrou na garagem com o carro dela.
    A mãe de Pedro entrou na garagem com o carro dele.
  • Colocação inadequada das palavras:
    O garoto saiu do banheiro sujo.
    Quem estava sujo? O banheiro ou o garoto (que era uma daquelas crianças que apenas fingem tomar banho, deixando o chuveiro ligado e dando uma molhadinha no rosto e nos cabelos hehe). Consertando:
    O garoto saiu sujo do banheiro.
    Do banheiro sujo o garoto saiu.
  • Uso de forma indistinta entre o pronome relativo e a conjunção integrante:
    O aluno disse ao professor que era inteligente.
    Quem era inteligente, o professor ou o aluno? Corrigindo:
    O aluno disse que era inteligente ao professor.
    O aluno disse que o professor era inteligente.
  • Uso indevido de formas nominais:
    O policial prendeu o assaltante correndo na rua.
    Quem corria? O policial ou o assaltante? Solução possível:
    O policial prendeu o assaltante que corria na rua.

Não existe fórmula mágica para escapar da ambiguidade, apenas atenção ao escrever, mas mesmo autores experientes se distraem às vezes. O que vai ajudar bastante é pedir que outra pessoa leia atentamente o texto, pois a interpretação desejada vai ‘nublar’ a vista do autor, impedindo-o de perceber a possibilidade de outra interpretação. Ou, podemos ainda deixar o texto ‘descansar e esfriar’. Dessa forma, nós mesmos seremos capazes de fazer a revisão. E isso vale para qualquer texto e para a revisão de vários problemas, por isso, nunca escreva de última hora! Dê ao seu cérebro tempo para que ele mesmo identifique seus problemas.

Até a próxima!

 


Margarida Moraes é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de 20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (CLIQUE AQUI para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não perca!

0 Shares:
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


You May Also Like