Temas Redação Enem 2015: Inclusão Escolar

No texto de hoje, daremos continuidade à série que aborda temas relevantes para a proposta de redação do Enem 2015 e de demais vestibulares e dissertaremos sobre uma questão pertinente, importante e polêmica: a inclusão escolar.

A inclusão de alunos portadores de necessidades especiais na escola sempre foi um assunto muito debatido nas universidades, nas próprias instituições escolares, na mídia, na esfera política e nas famílias que possuem ou não membros com algum tipo de deficiência.

Porém, esta discussão tem aumentado de uns anos para cá, já que, antigamente, essas pessoas eram escondidas em suas casas e pouco expostas à sociedade. Com o avanço da medicina e dos demais tratamentos (psicológico, fonoaudiólogo, fisioterápico, ocupacional dentre outros) e, consequentemente, com a diminuição do preconceito e com o aumento da acessibilidade, os portadores de diversas necessidades especiais começaram a ser mais incluídos na sociedade.

No entanto, infelizmente, ainda existe preconceito e discriminação para com esses indivíduos e a acessibilidade a lugares públicos e privados ainda não está 100% garantida. No caso dos deficientes físicos, por exemplo, poucos imóveis estão adaptados para a entrada e saída de cadeirantes; as calçadas não são projetadas para deficientes visuais; há poucos intérpretes de Libras nas escolas para os alunos deficientes auditivos e portadores de Síndrome de Down, Autismo e demais síndromes enfrentam muitos obstáculos para serem incluídos nas escolas, nas universidades e no mercado de trabalho.

No caso das crianças com Autismo, um caso recente chamou a atenção na última semana, dia 18 de dezembro. Em Sorocaba, interior de São Paulo, um menino autista de cinco anos foi convidado a se retirar do colégio particular que frequentava desde os cinco meses de vida por não estar apresentando bons resultados.

Em matéria publicada pelo portal G1 e em reportagem produzida pela TV Tem que podem ser acessados por aqui, os pais relatam que o colégio foi muito importante para a família, já que ajudou no diagnóstico do Autismo quando a criança tinha dois anos de idade e que ficaram surpresos e chocados com a postura adotada pela direção e pela coordenação escolar e, por isso, fizeram um desabafo em uma rede social que repercutiu em toda a população de Sorocaba pelo colégio ser um dos mais renomados, elitizados e caros da cidade.

O colégio alegou que não estava obtendo bons resultados e que o aluno não conseguiria acompanhar os conteúdos e o ritmo do Ensino Fundamental, já que em 2015 começaria a cursar o 1º ano desta etapa do ensino básico. Neste ponto, o que são bons resultados para um colégio privado e de elite? Como a instituição não forneceu maiores detalhes, só podemos formular hipóteses e inferências, algo muito importante na produção de uma redação.

Ao que parece, bons resultados para este colégio que é sempre o 1º colocado em Sorocaba no Enem e que está localizado em um dos bairros nobres da cidade é aprovações em universidades públicas e a primeira colocação no Exame Nacional do Ensino Médio e não a inclusão, a socialização e o desenvolvimento de um aluno com necessidades especiais.

Aliás, este é um dos males do sistema de seleção pelo vestibular: é uma prova que não atesta e não afere todo o conhecimento adquirido pelo aluno, pois é uma avaliação tradicional, comparativa e que valoriza apenas conteúdos clássicos e canônicos e que não é democrático, já que, infelizmente, há diferenças gritantes entre escolas em todo o Brasil e nem todos têm acesso aos melhores colégios e nem todas as escolas têm oportunidades de serem as melhores, pois mal há investimento e gestão adequadas.

Portanto, colégios pautados e pressionados apenas pelo vestibular tendem a colocá-lo como prioridade e isso acaba sendo um critério de seleção antes mesmo do fim do Ensino Médio.

Além desta questão dos “bons resultados” ser altamente questionável, também é passível de discussão a própria inclusão escolar. Segundo juristas entrevistados pelo G1 e pela TV Tem, o colégio cometeu uma atitude ilegal, pois de acordo com a Constituição todos têm direito a educação e segundo a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 todos os sistemas de ensino devem assegurar a inclusão aos alunos portadores de necessidades especiais por meio de currículos e métodos específicos. Inclusive, há uma lei recente e específica para os alunos autistas que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista que prevê a preparação das escolas para receber alunos nestas condições.

No entanto, apesar da existências destas leis fundamentais, será que as escolas estão preparadas para a inclusão de portadores de necessidades especiais? Será que os professores, os diretores, os coordenadores e os demais funcionários estão e são preparados para receber estes alunos? Estas perguntas devem ser discutidas e respondidas, com argumentos sustentáveis, caso este tema seja alvo de uma proposta de redação no Enem.

Falando por mim, pouco foi discutido em meu curso de Licenciatura em Letras a questão da inclusão escolar e quando me deparei com alunos especiais precisei estudar por conta própria e criar novos modelos de estudo e de avaliação para atendê-los e ensiná-los da melhor maneira possível.

Falando em Enem, minha irmã portadora de Síndrome de Down foi muito bem recebida nos dois dias do exame: fez a prova em uma sala especial, apenas para ela e obteve ajuda de uma pessoa e de um fiscal e minha mãe pôde ficar no corredor da universidade, aguardando a sua saída. Porém, uma pergunta ficou no ar: e depois? Será que minha irmã será aceita em uma faculdade ou curso técnico em 2015? Se sim, como isso se dará, já que para conseguir uma escola que a aceitasse aos sete anos meus pais batalharam bastante, pois algumas se recusavam e a maioria aceitava, mas afirmava ser uma tentativa, pois seria a primeira aluna especial.

O Enem, aliás, é inclusivo no sentido de aceitar e de facilitar a realização da prova por portadores de necessidades especiais, mas no caso das deficiências mentais, a avaliação do exame é inclusiva? Não, pois não é diferenciada e especial como cada caso pede. Obviamente há algo que admitimos ser difícil pela dimensão do Enem e pela dimensão e variedade das deficiências mentais e pela diversidade dos candidatos, já que cada pessoa tem seu desenvolvimento, seu aprendizado, sua evolução. Inclusive, isso já é uma realidade entre alunos sem deficiência e não poderia ser diferente entre alunos com necessidades especiais.

Enfim, trata-se de um debate fundamental e de suma importância na nossa sociedade que pode ser colocado em uma proposta de redação do Enem e que, dentro e fora dele, deve ser tratado com todo o respeito a fim de assegurar a dignidade e a educação de cada um.

 


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

**Camila também é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos milhares de leitores! Seus artigos serão publicados todas às quintas-feiras, não percam!

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1 comment
  1. Olá, professora Camila! Poderia corrigir munha redação?

    Inclusão escolar: como respeitar as diferenças?

    A escola que deveria se constituir no principal espaço público da sociedade, tornou-se um agente de exclusão, pois desde muito cedo, as crianças são orientadas pela família para não conviverem com crianças de outra cor, religião, classe social, com deficiência etc. Essas crianças acabam agredindo física e verbalmente, e em muitas situações isolam os colegas “ditos diferentes”, além de colocar apelidos pejorativos contribuindo para a prática do “bullying”.

    Dessa forma, a situação se torna ainda mais grave, pois na maioria das vezes, o alvo é uma criança ou um jovem que por possuir algum tipo de deficiência, são mal vistos em sala de aula, e que às vezes os mesmos não têm nenhuma habilidade física ou emocional para lidar com certas agressões. Algumas dessas atitudes acontecem, muitas vezes, por falta de conhecimento sobre os tipos de deficiência e em boa parte, pelo preconceito trazido de casa.

    Além disso, infelizmente é comum encontrar escolas sem capacidade para atender todas as crianças hoje no Brasil, pois uma parcela significativa ainda vive escondida em casa ou isolada em instituições especializadas, situação que priva essas crianças a conviverem de maneira participativa na sociedade. Todavia, o combate à exclusão nas escolas não pode se conter apenas a alunos com necessidades educacionais, mas de forma que seja de todos e para todos.

    Como afirma Peter Mittler, “a inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada sem fim, com todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais estão em nossas mentes e em nossos corações”. Respeitar as diferenças é o primeiro passo, mas a inclusão não depende somente de uma reforma do pensamento. Cabe à escola possibilitar uma educação diversificada e qualitativa e ao Governo garantir o acesso e a participação de todas as crianças, sem exceção. Possibilitando, dessa maneira, uma melhor preparação dos professores, desde a graduação, além de, ampliar os recursos nas escolas como a questão do acesso físico e de recursos didáticos, como também garantir professores auxiliares nas salas de aula para não haver sobrecarga.

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