Sou contra cotas nas universidades brasileiras

Por Maria Beatriz Lobo* 

Eu sou contra cotas por raça nas universidades, não só pelos motivos que normalmente se coloca: de que estamos instalando agora a diferença de raça de forma clara no Brasil.

Em todos os sistemas de cotas, ou de políticas afirmativas (no trabalho, por exemplo, como a porcentagem de vagas obrigatórias para portadores de deficiência) a sociedade deve decidir se deve, ou não incentivar minorias, ou gênero, ou grupos, inclusive quais os casos em que pretende reparar injustiças sofridas por determinados grupos que forem considerados socialmente prejudicados, ou que apresentem dificuldades de competitividade por não terem acesso às mesmas oportunidades do restante da população.

Eu não defendo o sistema de cotas nas universidades porque, diferentemente do que ocorre em outras áreas, nas instituições educacionais de alto nível, no caso do Brasil, principalmente nas universidades públicas, a questão do mérito é fundamental e pressupõe, além da bagagem acadêmica necessária para responder aos desafios do curso, que seja analisada a verdadeira vocação do aluno, uma vez que são os mais vocacionados os que possuem mais chances de se tornarem os profissionais ou cientistas que se pretende formar nestas instituições, estabelecendo-se qual perfil de aluno é mais adequado às necessidades do país, independentemente de cor, credo, sexo etc.,

A dificuldade de acesso ao ensino superior não se resolverá abrindo algumas vagas, ou cotas ou mais algumas IES públicas e gratuitas e sim com a adoção, como faz a maioria dos países desenvolvidos, de um amplo programa de financiamento ao estudante carente, mas academicamente capaz.

No ensino superior brasileiro 52% dos alunos são oriundos dos 20% mais ricos na população, enquanto 2,7% são oriundos dos 20% mais pobres. Ou seja, nosso modelo é cruel e inexplicável!

Além disso, as nossas melhores universidades públicas (que ainda são as ilhas de excelência e da produção científica no Brasil e precisam se manter como o referencial de qualidade para as demais instituições nos seus campos de atuação: científico, tecnológico, educacional, cultural e artístico) precisam ser preservadas sem terem que responder por este tipo de política de inclusão social, que é de estado e não das universidades.

A inclusão social por meio da educação superior só ocorrerá realmente por meio de um corajoso e radical programa de melhoria de nossa educação básica. Temos que tomar medidas para isto que, diante do descalabro dos resultados de nossos alunos nos exames internacionais, terão que ser radicais (pois defendo que não há tempo para esperar que o sistema melhore no seu próprio compasso, com medidas só de incentivo aqui e acolá, pois sempre estaremos muito atrás dos países que já são bons e ainda se aprimoram quase no nosso atual ritmo) e de amplos programas de financiamento ao aluno em boas instituições públicas e privadas.

Estes programas que não devem ser confundidos com a ampliação desmedida das nossas instituições públicas – em especial daquelas que adotaram o modelo da universidade européia, com custos, estrutura e missão voltadas de fato muito mais à pesquisa e à pós-graduação.

Se o governo almejar de fato democratizar a formação de profissionais de nível superior os sistemas federal, estaduais e municipais precisam diversificar o modelo de ensino superior ampliando os tipos de cursos e de instituições, criando e financiando programas mais próximos das necessidades de empregabilidade, como os “community colleges” americanos que são muito mais baratos do que o nosso modelo de universidade financiado por todos nós, que somos contribuintes.

Os cursos tecnológicos de nível superior existentes são um passo ainda modesto e pouco abrangente nesta direção.
Além disso, precisamos ter coragem de cobrar de quem pode pagar e ampliar as bolsas das IES públicas aos bons estudantes que conseguiram entrar, mas não podem se manter nestes cursos por falta de recursos.

Para finalizar, as cotas só fariam sentido em minha opinião se, e somente se, as instituições de ensino entendessem que seria preciso (para melhorar a formação do estudante) incentivar o acesso de determinados grupos com o objetivo explícito de ampliar a convivência dos alunos com os mais diferentes tipos representativos de estratos sociais, raças, credos etc, para assim complementar a visão global de formação em nível superior.

Então, neste caso, este seria um programa acadêmico (e não uma política de inclusão social ou política afirmativa) a ser acompanhado, para se verificar se alcança seu objetivo, abrindo-se mão da meritocracia pura na busca da amplitude de experiências para todo o corpo acadêmico.

Isto já é adotado em alguns países com sucesso, mas em programas muito menores e não para todo sistema universitário.

Precisamos é melhorar o ensino básico brasileiro – que é um dos piores do mundo – e deixar de querer corrigir reais injustiças e abusos que ocorreram com os afrodescendentes (e que ainda ocorrem, infelizmente, e devem ser severamente punidos) por meio de paliativos (muitas vezes demagógicos) e pensar em outros programas de inclusão social que os apoie.

Por estas razões, não podemos e não devemos abrir mão do mérito exigido para que as nossas universidades também melhorem sua qualidade para que alcancem a um patamar mais condizente com nossa economia nos rankings internacionais.

Só com medidas que atinjam à educação básica, o financiamento dos alunos capazes e a excelência de parte de nossas universidades elevarão o Brasil e os brasileiros avançarão na escala social como merecem!

 

Artigo intitulado “POR QUE SOU CONTRA AS COTAS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS?”, publicado em 3 de junho de 2011, no endereço mbeatrizlobo.com.br.

*Maria Beatriz Lobo é Licenciada, Bacharel e Psicóloga pela Universidade de Mogi das Cruzes – UMC e pós-graduada em Administração Universitária pela Universidade da Flórida – EUA/ Universidade Federal de Alagoas. Foi chefe de Planejamento e Avaliação e Diretora Pedagógica na Universidade de Fortaleza – UNIFOR; Vice-Reitora e Reitora em exercício da Universidade de Mogi das Cruzes – UMC. Atualmente é Sócia-Diretora da Lobo & Associados Consultoria e Vice-presidente do Instituto Lobo.

**Nós do Infoenem, no intuito de promover um debate democrático sobre as cotas, e após ter publicado artigo em defesa das mesmas, entramos em contato com Maria Beatriz Lobo, solicitando a permissão para publicar em nosso portal artigo escrito pela mesma em março do ano passado. Prontamente atendidos, agradecemos a autora por ter concedido a permissão e contribuído para elevar o nível do nosso debate.

 

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15 comments
  1. bom eu nao sou a favor das cotas porque eu acho que desmerece o negros,acho que vir de uma escola publica nao e facil e ter que trabalhar e competir com que estudou na melhor escola desde pequeno nao ajuda mas; vcs devem conher pessoas que estudaram em escola publica eque fizeram faculdade de jornalismo ou prestaram algum concurso publico eque passaram entao au acho que o que vale nao e a cor da sua pele mais o grau comprometimento com o seu futuro ate onde vc esta disposto a se compormeter. fica o pensamento

  2. Desculpe. Fiz um comentario acima dizendo que discordo mas foi com a opiniáo de outra pessoa que é a favor de
    cotas.
    Concordo totalmente com a Sra Maria Beatriz.
    Obrigada

  3. Eu sou a favor das cotas sociais, porque os estudantes da escola publica nao tem as mesmas chances de passar no vestibular que os alunos que estudaram em escolas particulares, afinal sempre foi uma injustiça isso de o pobre estudar o tempo todo em uma escola publica e nao poder continuar por nao conseguir ser aprovado numa universidade publica e nao ter condiçoes financeiras para bancar um curso superior particular e isso nao significa dizer que o pobre tem menos capacidade, significa dizer que ele nao teve oportunidade de aprender tudo o que ele necessita para ser aprovado em uma universidade publica. Eu sei muito bem disso porque estudei em escola publica e particular e nota se claramente a diferença. Porem sou contra as cotas raciais, porque acredito que o branco, o negro e o indio posuem as mesmas capacidades intelectuais, embora infelizmente haja discriminação em relação aos negros e indios o que nao interfere em suas capacidades intelectuais ou nao devem interferir.

  4. Sou a favor das cotas, pois venho de uma escola publica que o ensino não chega aos pés de uma escola particular! Eu trabalho para pagar meu curso Pré Vestibular, e fico indignado com o que vejo…! 80% da sala são de alunos que sempre estudaram em escolas particulares… O restante da sala são de escolas publicas e que precisão trabalhar para pagar o cursinho que não é barato… Nota-se na sala que os alunos de escolas particulares não se misturam com os de escolas publicas! Você sabe o porque isso acontece? Eles não se misturam pois não querem ter o “privilégio” de ser zombados por seus colegas de classe, como mais um que não vai ter futuro! como nós somos todos os dias zombados e ignorados por eles… Infelizmente se nota essa mudança de comportamento com os professores perante a nós! Por que acontece isso você tem essa resposta…? será que temos alguma doença na cor da pele? Há antes que esqueça me explica essa frase ” A favela é a senzala de ontem “…

    1. Primeiramente, não é “Há” e sim “Ah” ou, apenas apague isso.
      Creio que você não sabe o que é uma senzala, pois lá ficavam apenas os negros ESCRAVOS ( propriedades dos senhores de engenho ). Eles eram acorrentados e sofriam diversos abusos.
      A favela é um ambiente com negros, brancos, indios, etc. e o escravismo já deixou de existir.
      A mudança não deve vir do professor e sim do estudante, conheço professores que são ameaçados de morte. Como devo trabalhar bem em um local onde posso morrer a qualquer instante?

    2. Desculpe. Discordo do seu modo de ver as coisas. A questáo da cota só menospreza mais ainda a capacidade
      seja da raça ou o que for se é que podemos falar assim. Ja vi negros super bem sucedidos que nunca pensaram na cor da pele, só olharam pra frente na sobrevivencia.
      As pessoas que ficam falando desse assunto precisam se tratar e elevar a auto estima. Ser humano náo tendo
      limitaçoes pode desenvolver tanto quanto outros semelhantes de qualquer cor.
      Acredito que os negros sejam mais racistas que brancos. imagina o branco pobre? Esse náo vai ter condiçoes
      nem uma vaga por cota entáo? Quando chegamos nessa questáo é que ninguem tem uma resposta certa.
      Voce concorda comigo? A cota sim vai criar a desigualdade. As pessoas que lutam atingem seus objetivos
      náo ficam questionando os problemas e jogando a culpa na cor ou na condiçao financeira. Voce náo precisa reproduzir a pobreza dos seus pais. A cada geraçao é necessario desenvolver e avançar e náo ficar pensando em conseguir coisas pela cor ou porque sempre foi pobre. Eu sou descendente de japoneses e sempre fui pobre. Meu pai era caminhoneiro e minha mae gastou os ossos cervicais de tanto costurar. Eu náo fiz facul estadual e pago o preço até hoje. Mas sempre pensei em melhorar essa questáo e meus filhos fizeram boas escolas e hoje estáo na Usp. Náo precisamos sofrer o tempo todo ok? Abraços

    3. Booumm discordo do que vc diisse… Vouu tee Faalar um COissa euu Estuudeii Naa esscolla Particular até a 5° sériie ee posso te falar uma coisaa essa escola noom foi Muiitoo Bouua … Laa só existe 1 Professor pra todas as Matéériiaass … Inglle^^eS Neem tinha direiitoos .. Espanhol era uma Porcaria … ee aa salaa onde euu Estudava só tinha 7 colegaas .. (Boua escola particular vc Teve ) e a estadual teem pessoas que éé muiitoo brilhosas … e que era mais inteligentes do que os outros da particular que só Se achavam … && aiinda oo ensino eé´Muito Boum os professores dão o melhor de sii pra ensinar um buurro a compreender oo COnteuudo ..

  5. sou contra ,pois a capacidade dos negros passarem em um vestibular é a mesma que qualquer outro tipo de raça o que vai ser testado é o seu conhecimento e o negro nesse aspecto deveria competir igualmente pois ele também tem capacidade a cota de certa forma também manifesta-se de forma discriminativa.

  6. Durante muito tempo achei a poítica das cotas racistas e que, além de tudo, menosprezava a capacidade intelectual do afrodescendente. Hoje, eu, afrodescendete com orgulho, creio que sem a política de cotas a discrepância que acontece entre oriundos de escolas públicas e prividas será solucionada. Certo que a Constituição afirma que somos iguais perante a lei, mas inflizmente dentro do mesmo contexto escolar encontra-se negros e brancos, porém os primeiros, por fatos históricos são sempre subordinados aos segundos, mesmo dentro da mesma classe social.

  7. ” eu sou contra a essa política democrática excludente presente em nossa”
    graças a política brasileira existem tais problemáticas!!!

  8. Eu sou a favor das cotas, não do jeito que estão empurrando de guela abaixo, as cotas só serão justa se for apenas 40% para um único grupo, ou seja, só para os oriundos de escolas públicas, porque envolvem todos os excluídos.

  9. Lei das cotas e lei dos 50%, no meu ver, não altera muito as disputas à vagas não… pois quem conseguir passar via cota/50% enfrentara uma monstruosa concorrencia também, afinal, são quase 6 milhões de participantes no ENEM…

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