O grande segredo de uma redação

A importância de saber ler e escrever nos é revelada antes mesmo de começarmos a ser alfabetizados e nos é intrínseca, já que desde muito cedo brincamos com a linguagem por meio de lápis, caneta, papel, revistas, livros e, com o advento tecnológico, com celulares, computadores e tablets. A linguagem e as línguas fazem parte da nossa evolução como espécie.

Quando entramos na escola, a escrita passa a ser ensinada em seus aspectos formais – ortografia, gramática normativa, pontuação, estrutura textual, tipos textuais, gêneros, sintaxe, semântica etc – a fim de que os estudantes aprendam a escrever no dia a dia segundo suas necessidades e objetivos.

A partir do final do Ensino Fundamental II, passando pelo Ensino Médio, a escrita é colocada pelos professores como fator primordial para que seus alunos sejam aprovados nos vestibulares que, por sua vez, são, no Brasil, o tipo de seleção de candidatos mais utilizado pelas universidades e faculdades, algo muito criticado, inclusive, mas isso é outra história.

Neste cenário, a escrita passa a ser vista pelos, agora, candidatos ao Enem e às demais provas, como obrigação, assim como as demais disciplinas escolares. A impressão que se tem é que devemos escrever adequadamente apenas um tipo textual – a dissertação-argumentativa, já que ela é a maior exigência em exames de produção de texto, como se só existisse este tipo e não os inúmeros gêneros que circulam nas mais variadas esferas sociais – para obtermos a nota mínima para conseguirmos a tão sonhada vaga no curso universitário desejado. E isso é errado.

Devemos ler e escrever de modo autônomo e proficiente para a vida, para sermos cidadãos atuantes e protagonistas de nossos pensamentos. Quem pensa em, apenas, atingir a nota de corte pensa de maneira medíocre.

Por muitos estudantes pensarem deste modo, a escrita e a leitura passam a ser vistos como obrigação; o não incentivo, na infância, à leitura e à escrita contribuem para este cenário, pois ambas devem ser hábitos prazerosos na rotina de todas as pessoas e, para tanto, o acesso ao conhecimento deve ser liberado e estimulado. Estes fatores em conjunto favorecem a ideia de que a Língua Portuguesa é chata e muito difícil – o que é mentiroso – e a falsa sensação de que escrever é um bicho de sete cabeças.

Obviamente, devemos levar em conta que cada indivíduo possui habilidades e preferências diferentes: uns se saem melhor nas exatas, outros nas biológicas e outros nas humanas e, ainda, há aqueles que se saem bem em todas as áreas. O problema de sair-se mal em produção de texto e em leitura, por exemplo, são as consequências para toda a vida, já que nos comunicamos oralmente e por escrito no ambiente de trabalho, na esfera íntima, na academia… ou seja, em todos os segmentos.

Os alunos que possuem dificuldades em escrever e não têm isto como um hábito, ao se depararem com a pressão da escola e/ou com a necessidade de “passarem” em um Enem ou em um outro vestibular, por exemplo, ficam desesperados em busca de uma receita perfeita – ou, quem sabe, mágica – para escrever um texto. Mas esta receita não existe.

Há, apenas, um grande truque, um segredo para escrever bem e para terminar de escrever um trabalho escolar, uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado ou qualquer outro tipo ou gênero: escrever.

A escrita deve ser parte integrante da rotina de um estudante que está se preparando para prestar o Enem ou um outro vestibular e não apenas em relação aos estudos da Língua Portuguesa e da redação; as demais disciplinas devem ser estudadas através da escrita por meio da produção de rascunhos, resumos, relatórios, projetos, resenhas, respostas dissertativas, dentre outros.

Todos que lidam, em seu dia a dia, diretamente com a escrita devem se programar e organizar suas rotinas para escrever. Os candidatos ao Enem e aos vestibulares, por exemplo, em relação à redação, devem realizar suas leituras, discussões e pesquisas antes de fazerem as propostas. Após esta primeira parte é o momento de escrever.

Sentem-se, de maneira confortável, em uma cadeira, de frente para uma mesa, em um cômodo agradável e quieto, sem distrações como internet, celulares, televisão, rádio etc. Disponham-se a cumprir a proposta de redação de dois modos, alternadamente: sem preocupar-se com o tempo e controlando-o, como se fosse, realmente, o dia da prova.

Estudantes e candidatos devem se comprometer a escrever todos os dias e, pensando em redação, a fazer, pelo menos, uma proposta por semana. Este é o mínimo. Caso seja possível escrever mais de uma redação por semana, perfeito!

Theresa MacPhail, professora assistente do Stevens Institute of Technology, nos Estados Unidos, em seu blog, defende – com razão – que escrever é pensar. Ela afirma, corretamente, que enquanto escrevemos as ideias vão aparecendo e que, infelizmente, momentos geniais são raros e que se a escrita fosse encarada como um desafio, principalmente por aqueles que torcem o nariz para ela, seria muito mais fácil haver uma melhora. Para MacPhail, devemos nos comprometer com o processo da escrita e não pensar, apenas, em termos uma nota mínima para atingirmos a nossa meta.

Apostamos que candidatos que obtém notas máximas no Enem e em demais vestibulares possuem, desde crianças, o gosto pela leitura e pela escrita e encaram esta como um processo de aprendizagem eterna e não fazem o mínimo para terem a nota mínima; pelo contrário, eles fazem o máximo para obterem a nota máxima e, acima de tudo, para serem proficientes e dominarem a escrita.

Claro que há diferentes estilos de escrita, mas a disciplina com o processo é de fundamental importância. MacPhail ressalta que haverá, nesta rotina, bons e maus momentos: haverá dias em que a escrita deslanchará e haverá outros em que ela parecerá travada, mas isto é normal. Sempre temos nossos bons e nossos maus dias. A sua dica é escrever, do mesmo modo, maus dias para, inclusive, aprendermos a lidar com as nossas frustrações e dificuldades.
Nesta parte do processo, os rascunhos e as revisões são importantíssimos. Como já dissemos em outras publicações, autores consagrados como Guimarães Rosa dedicavam grande parte de seu tempo à revisão de seus livros e devemos fazer o mesmo com as nossas redações reescrevendo-as até elas ficarem do modo como queremos.

Como estudantes e candidatos ao Enem e aos demais vestibulares, escrever faz parte do trabalho e da rotina. Então, como finaliza MacPhail em seu texto, parem de ler e vão escrever!

MACPHAIL, Teresa. The no-fail secret to writing a dissertation. Disponível em https://chroniclevitae.com/news/370-the-no-fail-secret-to-writing-a-dissertation?cid=VTKT1. Acessado em 04/08/2014.

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*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

**Camila também é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para nossos milhares de leitores! Seus artigos serão publicados todas às quintas-feiras, não percam!

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